terça-feira, 16 de novembro de 2010

Duas sílabas apenas

Por: Jorge Cordeiro
Seja por razões de contaminação política que a convivência que os une nas presidenciais tenha gerado, seja por essa razão maior determinada pelo preconceito anticomunista que comprovadamente os identifica, Louçã e Ana Gomes reagiram à visita do presidente chinês ao nosso país. Uma, manifestando a cínica inquietação sobre a perda de soberania que poderia resultar para Portugal da compra pela China de parte da dívida soberana nacional; outro, arremessando argumentos a pretexto da anunciada intenção de entrada de capital chinês em empresas «nacionais». Ana Gomes, confessada federalista para quem o valor da soberania nacional é como água em deserto, não hesita – quando é posta perante a opção entre uma desejável diversificação da dívida pública e a manutenção da exclusiva dependência actualmente verificada – em entregar-se nos braços da agiotagem «amiga», mesmo que isso signifique a irremediável perda da nossa soberania económica e política. Já Louçã, para quem só o soletrar do par de sílabas daquele país lhe aviva irresolúveis problemas de consciência que acompanham o seu percurso político, decidiu exercitar o seu melhor anticomunismo. Disse Louçã, a propósito das notícias sobre a eventual entrada de capital chinês na EDP, que «não somos daqueles para quem as privatizações são erradas do ponto de vista estratégico mas que passa a vê-las como boas se for uma empresa capitalista chinesa ...». Regista-se a insinuação e o seu significado. Alinhado pelo ambiente e opinião dominantes ditadas pelo imperialismo, a critica à China, com o que encerra de anticomunismo, é vista por Louçã como coisa que «está a dar», tipo moeda em caixa registadora eleitoral, capaz de só por si valer mais que qualquer atitude ditada por critérios de rigor ou princípio. Quanto a quem quis atingir, sempre se dirá que, para lá do jogo de palavras e dos pontapés na verdade que usualmente acompanham o seu pensamento, a coerência do PCP, em matéria de combate às privatizações e de exigência de controlo pelo Estado dos sectores estratégicos da economia, é tão clara que só por caricatura se pode confundir com a nebulosa atitude que o BE mantém quando se trata de clarificar posições em matéria de propriedade e nacionalizações

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