terça-feira, 9 de novembro de 2010

Cavaco revelou-se candidato

Jorge Cordeiro
O leme e o naufrágio
Cavaco Silva revelou-se candidato. Nada que a bem sucedida intervenção eleitoral que vinha construindo a partir das suas funções presidenciais não deixasse prever. O que estaria mais arredado de algumas mais ingénuas previsões seria a forma e os conteúdos expressos. Desde logo, temos de regresso o homem do leme, aquela providencial figura sem a qual o país não sobreviveria, nem o sol nasceria. Na modéstia majestática do candidato temos ali sinónimo de «mais»: o mais experiente, o mais formado, o mais influente, o mais capaz de tudo incluindo da proeza de Portugal não estar pior. O que em si legitima a interrogação de saber se quem lhe escreveu o texto está por cá. Descontado que seja o pormenor de não se perceber onde é que a sua formação económica entra em consideração perante o naufrágio económico do país; de procurar saber onde, para lá dos principais círculos do capital financeiro e dos grupos económicos, se fez sentir a sua magistratura de influência; de se tentar perceber porque é invocável como boa, uma experiência feita de um percurso demolidor para o país em mais de uma década de funções governativas que não só deram à luz nutrido défice como comprometeram o desenvolvimento – admitamos que o que resta, descontos feitos, é pouco para tanta pretensão.
Ousado no conteúdo, a forma não o inveja. O enquadramento temporal do anúncio; a gestão da encenada negociação entre governo e PSD e respectiva concretização; e a laboriosa construção, a pretexto da eminência de uma «crise política», do papel de salvador – são apenas episódios em torno da divulgação de uma candidatura há muito conhecida. E que terá tido na convocação do Conselho de Estado, na inédita comunicação pessoal que dirigiu e na cirúrgica divulgação do não menos previsível acordo entre Catroga e Teixeira dos Santos, a primeira grande iniciativa da sua campanha eleitoral.
O que para lá de tudo o resto, permitirá mais facilmente levar cada um a perceber porque Cavaco Silva apregoou a dispensa nesta campanha eleitoral de «Out-door's»!

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