Militante comunista desde 1958, mulher duma fibra imensa,
duma firmeza contagiante de convicções inabaláveis.
Nascida no Couço, terra heróica nas lutas contra o fascismo,
pela democracia e pela liberdade, palco de imensas lutas pelo direito ao
trabalho, por uma vida digna, sementeira de gerações e gerações de mulheres e
homens que, sempre com o seu Partido, estiveram e estão do lado certo da
barricada, Maria Rosa deixou a escola aos 13 anos para ingressar a tempo
inteiro na dura labuta do campo onde, como ela dizia, “se trabalhava de sol a
sol para se receber uns míseros 6 escudos”, o seu primeiro ordenado.
Cedo percebeu por experiência vivida e sofrida o que era a
exploração e as injustiças.
Cedo percebeu que a miséria de uns, era a razão da ostensiva
riqueza de outros que tudo tinham á custa do suor daqueles que exploravam sem
dó nem piedade.
Com o seu suor, aprendeu rápido aquilo que muitos não
queriam, não querem, se recusavam e recusam a ver: Que há uma luta de classes,
que essa luta se dá entre explorados e exploradores.
Do lado dos explorados, daqueles que nada tendo a não ser a
força do seu trabalho, e que lutaram das mais variadas formas contra a
exploração, Maria Rosa participou em Greves, manifestações e outras formas de
luta dos operários agrícolas.
Como ela dizia: “Esteve em todas”. Foi participante activa na
luta vitoriosa dos operários agrícolas do Ribatejo e do Alentejo, pela
conquista da jornada de trabalho de 8 horas no campo.
Muito cedo percebeu igualmente que a luta por melhores
condições de trabalho e pelo direito ao trabalho era inseparável da luta contra
a ditadura fascista, da luta pela liberdade e pela democracia, da luta pelo
socialismo.
Empenhou-se em acções de solidariedade com os presos
políticos e participou activamente na greve política de 1958 contra a burla
eleitoral que no Couço teve enorme relevo.
Aqui, Humberto Delgado ganhou com mais de 80% dos votos,
recorde-se.
Em 1961 foi presa pela PIDE.
Ela e muitas outras mulheres do Couço foram vítimas da
tortura do sono, e de todo um conjunto de brutalidades e torturas físicas que
ela nos descreveu com grande precisão e que revelam que os abanões da polícia,
como dizia Salazar, eram bem mais do que isso e deixaram marcas para toda a
vida.
À brutalidade da tortura e dos maus tratos, juntou-se a
coacção, a humilhação a que ela e muitas outras foram sujeitas. A brutalidade
da polícia foi tal que chegou a temer-se pela sua vida.
Tudo isso ela enfrentou com grande coragem e determinação.
Foi julgada em Julho de 1961, tendo sido condenada a 14 meses
de pena correccional, tendo cumprido uma pena de 6 meses na prisão.
Em liberdade, retoma a luta com a sua classe e com o povo da
sua terra.
Retoma a sua actividade de militante comunista.
Como ela nos disse: “Uma vez cá fora, continuei com as mesmas
lutas, por melhor salário e pelas 8 horas de trabalho. “
E assim foi até ao 25 de Abril, sempre a lutar.
Participou activamente Na actividade do PCP, na Freguesia do
Couço, Na Comissão Concelhia de Coruche, tendo assumido diversas tarefas e
responsabilidades, designadamente a coordenação de um organismo de direcção de
6 UCPs e Cooperativas da reforma agrária.
Comunista destacada e muito prestigiada, veio a ser eleita
para o Comité Central do Partido, no 9º Congresso.
Destacou-se igualmente na luta pela reforma agrária e na
actividade sindical, onde desempenhou diversas tarefas na qualidade de
dirigente do Sindicato dos Operários Agrícolas do Distrito de Santarém.
Uma vida e uma luta cheias.
Sempre com aquela contagiante alegria feita de convicções que
não vacilam, que não desistem perante as adversidades da luta.
Com um discurso simples, claro como água, com a naturalidade
do dramatismo que imprimia às suas palavras, forjado no palco das lutas, de que
foi uma enorme protagonista.
Foi assim até ao limite das suas forças físicas.
Uma grande mulher, uma mulher grande, nascida a forjada na
grandiosidade desta terra que é o Couço.
A Maria Rosa foi sempre comunista, orgulhosa do seu Partido.
O seu, nosso Partido, orgulha-se dela!
A Maria Rosa deixou-nos. Fica connosco o seu exemplo.
A melhor forma de a homenagearmos é prosseguirmos com o seu
combate, com a sua luta.
Luta tanto mais necessária, quanto hoje assistimos a uma
poderosa ofensiva contra Abril, a Constituição e os direitos que ela consagra.
Uma ofensiva que visa reconstituir os privilégios perdidos
pelas classes dominantes na revolução de Abril.
Ontem como hoje, uma luta contra a exploração, pelos direitos
de quem trabalha.
Uma luta para que os ideais de Abril iluminem o futuro de
Portugal.
Luta dos comunistas, dos democratas, pela liberdade, pela
democracia, pelo socialismo. A LUTA CONTINUA!
(da intervenção de Octávio Augusto, da Comissão Política do
Comité Central do PCP, no funeral de Maria Rosa Viseu – Couço, 20 de Março de
2014)