sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Declaração de Jerónimo de Sousa sobre a Greve Geral


Uma vitória sobre a resignação e o conformismo
A Greve Geral, na qual participaram mais de três milhões de trabalhadores, «ficará inscrita na história da luta dos trabalhadores e do povo português», considerou, anteontem à tarde, o Secretário-geral do PCP. Sem convocar uma conferência de imprensa, em respeito pela greve dos jornalistas, Jerónimo de Sousa avaliou a dimensão e impacto da jornada de luta numa declaração escrita que fez chegar às redacções e que aqui publicamos.

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Hoje, por todo o País, os trabalhadores fizeram ouvir a sua voz. A Greve Geral de 24 de Novembro convocada pela CGTP-IN, uma das mais importantes jornadas de luta realizada em Portugal depois do 25 de Abril, constituiu uma poderosa resposta à brutal ofensiva do Governo PS e do PSD, e de todos aqueles, como é o caso do Presidente da República, que têm patrocinado o rumo de desastre nacional imposto ao País.
Uma grande Greve Geral que ficará inscrita na história da luta dos trabalhadores e do povo português, que teve o envolvimento de mais de 3 milhões de trabalhadores. Uma vitória sobre a resignação e o conformismo. Uma jornada que, pela sua dimensão, reafirmou o valor maior da luta.

1. O PCP destaca a dimensão nacional e o carácter transversal da Greve Geral. Por todo o País, no continente e regiões autónomas, registou-se uma adesão extraordinária na generalidade dos sectores de actividade.
O PCP sublinha a importância e significado das fortes adesões no sector dos transportes como o Metro de Lisboa,Porto Sul do TejoSoflusaTranstejoCPReferEMEF e em dezenas de empresas rodoviárias como é o exemplo dosSTCPCarrisRodoviária Entre-Douro e MinhoGrupo Barraqueiro e a Transdev. O encerramento de todos os portos marítimos e grande parte dos portos de pesca e o cancelamento da totalidade dos voos (mais de 500).
A Greve Geral assumiu ainda forte impacto no sector produtivo de que são exemplo: no sector automóvel aAutoeuropa e todo o seu complexo industrial, a Renault-Cacia, a MitsubishiTudor Camac; no sector da metalurgia e metalomecânica como os Estaleiros Navais de Viana do Castelo, o Arsenal do Alfeite, a Lisnave, a SactiJado Ibéria,Camo; no sector de cimento, cerâmica e vidro, a CNE, aAtlantis/Vista AlegreSaintGobain/Covina, a Cinca eLusoceran; no sector corticeiro o Grupo Amorim; no sector têxtil, vestuário e calçado o Grupo Paulo OliveiraTêxtil Almeida e FilhosCalifaTriunph KIAIA; no sector alimentar e bebidas a CentralcerKraft Foods; e em centenas de outras empresas de outros sectores produtivos.
O PCP sublinha ainda a grande resposta dada pelos trabalhadores da administração pública central e local com paragens que atingiram níveis históricos com paralisação total ou parcial em praticamente todo o País da recolha de resíduos sólidos, encerramento de centenas de escolas, Politécnicos e Faculdades, departamentos públicos, finanças, tribunais e outros serviços públicos como foi do caso do sector da saúde com uma forte adesão dos trabalhadores do sector.
O PCP valoriza ainda a dimensão e os impactos que a adesão de milhares de trabalhadores teve em diversos sectores e empresas, como os Estaleiros Navais de Viana do Castelo, o caso dos mais de 400 balcões da CGDencerrados, assim como de outros bancos e de praticamente todos os postos dos CTT, e das importantes e significativas adesões registadas nos trabalhadores dos hiper e supermercados, auto-estradas e centros de contacto.
Uma dimensão tanto mais valorizável quanto construída sob a pressão e chantagem sobre os trabalhadores. Pressão ideológica sobre a alegada inutilidade da luta; chantagem decorrente da imposição ilegítima de serviços mínimos que visam condicionar o direito à greve; pressão económica, dirigida sobretudo a trabalhadores com vínculo precário, com a ameaça de despedimento e de perdas nas remunerações (prémios); e o condicionamento ilegal com o recurso em vários casos à força por parte da PSP e da GNR para dar cobertura à violação do direito à greve.
Um êxito tanto mais assinalável quanto centenas de milhares de trabalhadores se vêem confrontados com situações de endividamento e com o agravamento do custo de vida. Trabalhadores para quem a realização de um dia de greve implica prescindirem de um dia do seu salário.
Esta Greve Geral veio do coração de cada empresa ou local de trabalho, da inabalável e consciente opção de cada trabalhador. Veio do sentimento de protesto, indignação e luta de milhões de trabalhadores que quiseram dizer basta. Basta de injustiças! Basta de sacrifícios para os mesmos de sempre. Uma Greve Geral que constitui um momento singular de afirmação de dignidade dos trabalhadores portugueses.

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