sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Histórias de vida 4

(Por Américo Abalada) 

7 - A morte de Alfredo Lima em 1950
A GNR assassinou Alfredo Lima o acto foi sentido pela esmagadora maioria da população trabalhadora de Alpiarça, eles mataram-no e levaram-no para Santarém, não se sabe porquê, porque Alfredo já estava morto, segundo diziam testemunhas oculares.
A indignação a revolta da população, criou grandes dificuldades ao regime na altura que as pessoas não se acomodaram, não foram trabalhar, para participar no funeral, mas o embaraço das autoridades era tanta, pela pressão das pessoas, que diziam que o funeral era de manhã depois de tarde e depois no outro dia, e no outro, a população não desarmava, juntava-se pela baixa em grandes quantidades.
Até que enterraram Alfredo Lima em segredo no cemitério em Santarém. Foi uma atitude de grande cobardia, esta tinha sido uma vitória da unidade e repúdio da população.
O caso foi sentido de tal maneira que vinte e quatro anos depois, em 25 de Abril de 1974, é derrubado o regime fascista de Salazar e Caetano, e passados poucos meses a transladação dos ossos de Alfredo Lima são transladados de Santarém para Alpiarça numa grande acção de massas, que participa de novo quase toda a população.
Esta a prova prática da resistência deste povo desta terra, pelo direito ao trabalho a salários dignos, e não a repressão que o regime consagrava, a luta em 48 anos foi difícil, muito difícil, mas com derrotas e pequena vitória destas e muitas outras pequenas vitórias, que pareciam ser insignificantes, consciencializaram as populações e enfraqueceram o regime até a vitória final da Liberdade e Democracia, hoje de novo muita afectada pela política realizada a mais de trinta anos pelos sucessivos governos.

8 - A fuga adiou a prisão
Aos meus cinco anos de idade, ou seja em 1958, o meu pai tinha fugido, por motivos políticos, para não ser preso visto a bufaria andar já muito a traz dele, e alguns camaradas deram-lhe a opinião de ele sair uns tempos da terra, depois logo se via.
Um dia minha mãe diz-me que íamos ter com o meu pai, perguntei onde, e responde minha mãe que não sabia deviam-nos lá levar.
Certo dia carregamos uma tralha tipo meloeiros, pouca coisa, na carrinha de caixa aberta de João José “Diabo” pai de Armindo João Gaspar Pinhão, ex-presidente de Câmara de Alpiarça, eleito pelo Partido Comunista Português. Lá partimos sem saber o destino naturalmente por medidas de segurança, para se fossemos intersectados pela PIDE não nos podermos descuidar com a informação imprópria dizendo sem crer onde estava o meu pai. Quando chegamos não sabíamos onde estávamos e João José informou que estávamos no campo de Azambuja, e fazia meloal ao pé onde ficávamos o António Leocádio “O Vinagre”, toda a família já faleceu, morava em frente da DaniDoce, faleceu ele a mulher filha genro e neto. Ficamos numa barraca dum senhor conhecido de António Leocádio, que fazia grande seara de arroz. Ao chegar, ia muito mal disposto da viagem cria ver o meu pai ele não apareceu instantaneamente, senti-me inseguro comecei a chorar, que só parou a chegada do meu pai dai por um bocado, eles descarregaram as nossas coisas que trazia-mos colocaram dentro da barraca do homem do arrozal e o João José “Diabo” lá partiu para Alpiarça.
Ao chegarmos o meu pai andava com um braço ligado, não sabíamos o que tinha acontecido, então foi ele que ia dormir noutra barraca longe dali por motivos de segurança, e de noite fazia o caminhada a atalhar saltava valas, nessa dita noite do acidente ia a saltar a uma das valas com uma inchada as costas e errou o salto caiu para cima da inchada e fez um grande golpe no braço, que teve de ser socorrido porque o golpe era grande e fundo. Mas como resolvia o problema? Visto para ir ao médico tinha de se identificar e não podia ser por motivos de segurança, lá resolveu ir dar uma identificação falsa, o médico coseu o braço levou ainda muitos pontos, não me lembro quantos, e fez os restantes curativos não voltando mais.
Lá fiquei até ao fim das searas com minha mãe e meu pai, eles trabalhavam e eu acompanhava-os, para não ficar sozinho na barraca, a vida era de grande secretismo para correr tudo bem, na altura vivia-se com fracas posses, para não dizer que a vida era de miséria.
Coisas de criança, lembro-me que quando cheguei existia uma gata com gatinho pequeninos ainda com os olhos fechados, que tinham nascido numa das noites anteriores na barraca onde o meu pai dormia a cabeceira dele, era uma das minhas brincadeiras, ganhei certa amizade aos animais, que quando viemos embora trouxe uma gatinha pequenina, que morreu de velha lá em casa, sempre tratada por toda a família com um carinho diferente pela circunstância. Esta e outras referências da repressão do regime ficam para sempre gravadas na memória de uma criança, que fazem o fio condutor da sua vida.

(Continua)

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