sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Histórias de vida (3)

 (Por Américo Abalada)
5-Primeira morte em 1919 na praça de jornas.
Deportados para Angola - Malange
Joaquim Miguel fere-se quando a GNR faz a primeira morte na praça de jornas, João Cardigo, deixa uma filha com 3 meses. Isto acontece em 1919, quando os trabalhadores estavam reunidos para exigir aumentos de salários e melhores condições de trabalho, também foi ferido numa perna o camarada João da Rama.
Luta de 1927 na praça de Jornas, os trabalhadores concentraram-se, o capataz Pedro Prancácio, traz ordem do patrão Manuel Paciência Gaspar, para fazer a proposta de baixar os ordenados de 7$00 para 6$00, este capataz era interino visto os outros capatazes recusarem-se a propor baixar o preço, os trabalhadores indignados começaram a chamar nomes, lacaio traidor formou-se grande agitação o capataz dizia que chamava a GNR, mas estes sabendo a situação já estavam por perto, estavam sempre ao lado dos agrários, “ as forças da ordem estão sempre ao lado dos exploradores”, apareceram a GNR começa a coronhada aos trabalhadores, estes indignados com a injustiça, voltaram-se a GNR e estes aqui não tiram a melhor visto os trabalhadores tiraram-lhes as armas deram-lhes com elas e destruíram as armas.
Resultado, uns presos outros deportados para África sem julgamento. Para Angola Malanje, vai Francisco dos Santos Abalada, tinha 22 anos de idade, deixou um filho António Malaquias Abalada com seis meses de idade, Guilherme Agostinho, com 18 anos solteiro e José Arnega.
Francisco dos Santos Abalada, faleceu meses depois de chegar a Malanje, os seus camaradas dizem que apanhou febres Africanas e que ele não resistiu, eles é que lhe fizeram o enterro, chegaram a andar com ele as costas para onde eram obrigados a ir para tomar conta dele e não o deixar sem apoio mínimo que fosse. A sua estadia em África foi tipo trabalho de escravo.
Mais tarde Guilherme Agostinho e José Arnega voltaram a Alpiarça.
Foram desterrados para o Alentejo Joaquim dos Santos Abalada e Manuel Precaté. Fugiu e andou 10 anos sem voltar a Alpiarça, Manuel da Silva Calado, ficando com a alcunha o “fugidio”. Esta luta ficou gravada na memória da população de Alpiarça pelas suas proporções, ela foi desenvolvida a seguir ao golpe fascista em 1926.


6- A primeira mulher Presa Politica em Alpiarça.
Em 1936 desenvolveu-se outra grande luta para aumento de salários, a GNR entrou na praça de jornas a cavalo espezinhando os trabalhadores com os cavalos selvaticamente e disparando tiros. Muitos homens foram presos e salientar que pela primeira vez foi presa também uma mulher, Joaquina Farinha Relvas “salientar que esta mulher foi sempre combativa até hoje que estamos no ano de 1980”. As mulheres em Alpiarça sempre estiveram ao lado dos seus companheiros na luta por salários mais dignos e por melhores condições de trabalho, as mulheres foram ainda muito mais exploradas que os homens, as mulheres em Abril de 1974 tinham um salário metade do homem, com trabalho por vezes igual.
Os fascistas nesta época já estavam bem organizados com grande máquina repressiva, o fascismo escudava-se dizendo que o povo de Alpiarça era comunista e tinha de ser combatido mandando para a repressão grande aparato da GNR e por vezes a cavalo, tentando convencer o povo em geral que não merecíamos consideração.
Os trabalhadores de Alpiarça não sabiam o que era o Socialismo nem o Comunismo, mas eram simpatizantes da revolução Russa “os ditos Sovietes”.
Joaquim Miguel continua o seu depoimento, eu acompanhei a Revolução da Republica, o que eu tenho a dizer é que houve liberdade, houve sim, pouco tempo, foi uma revolução burguesa que acabou com monarquia feudal, mas não acabaram com as estruturas feudais, estes ficaram nos postos chaves da jovem Republica, em 1926 fazem o golpe fascista e são sempre os mesmos.
Se os republicanos estivessem com os trabalhadores, nunca os fascistas tinham conseguido fazer o golpe, quando os trabalhadores pediam aumento de salário o Governo Republicano e os agrários mandavam a GNR carregar para cima de quem produzia, por isso os trabalhadores perderam a confiança nos governantes.
A seguir a Republica os trabalhadores rurais formam o seu sindicato, chamado Associação dos Trabalhadores Rurais, com sede em Évora, fazem parte dessa direcção 10 nomes de Alpiarça, de seguida cinco destes vão trabalhar para grandes casas agrícolas na época gente contra revolucionária, agrários contra a Republica, chamaram para feitores os tais cinco homens do associação dos rurais,“podia citar os nomes mas não me vou prestar a isso” estes formaram-se uns lacaios dos agrários contra os camaradas de trabalho, chegaram em lutas ameaçar os trabalhadores com prisão. 

(Continua)

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