sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Histórias de vida (2)

(Por Américo Abalada)

3 - Greve e morte
Lembro-me de o meu pai me contar com cinco ou seis anos, que o meu avô participou numa greve no ano de 1926 ou 27, a luta era como muitas outras por melhores condições de vida, na altura a miséria era muita passava-se muita fome, muita falta de primeiras necessidades. A greve deu em confrontos directos com a GNR e alguns participantes voltaram-se a GNR tiraram-lhes as espingardas, destruindo-as nas quinas das paredes, um grande problema foi criado.
Algumas pessoas para não serem presas fugiram para Santarém, mas acabaram por ser apanhadas e deportadas para Angola, Malange, em Malange adoeceram com febres, o meu avô esteve algum tempo doente, os seus camaradas contaram que quando se deslocavam, levavam-no com eles, o meu avô já não se levantava transportavam-no numa padiola, até que faleceu, segundo contaram cotizaram-se por todos e compraram a urna e fizeram o funeral, um dos participantes estou a lembrar-me foi o Sr. Guilherme Agostinho, morava na rua Joaquim Magalhães “Fusca” onde mora o filho João conhecido por “João Malandro”, e José Arnega.
O meu pai contava esta situação, mas noutras alturas dizia que um dia havia de o encontrar, muitas vezes pensa que o pai poderia estar vivo e um dia voltar, o sonho de um dia encontrar o pai era na tentação imaginário de um grande desejo que o prosseguia.
A vida foi formando o meu pai e muitos outros como revolucionários, pela prática dos acontecimentos, pelas injustiças sociais e pelas injustiças do procedimento do regime.
É como hoje o capitalismo mostra não conseguir resolver os problemas da humanidade, a ganância do lucro do dinheiro fácil é tanta que não é social, e cada vez mais pessoas vão compreendendo, que o capitalismo não pode ser o ultimo sistema de organização das sociedades, o capitalismo é o coveiro de si próprio como dizia Marx.

4 - A implantação da Republica em 1910

Depoimento de Joaquim Miguel, homem nascido no século XIX faz este depoimento com 83 anos de idade no ano de 1980. “Registo de António Abalada”. 
Os trabalhadores rurais antes da implantação da Republica Trabalhavam de sol a sol.
É bom lembrar aos que não sabem como os seus antepassados sofriam, uma das maiores explorações dessa época. Hoje temos regalias a custa dos sacrifícios deles, foi preciso grandes lutas para se conquistar o que hoje temos a usufruir.
Em 1911 e 12 os trabalhadores rurais lutaram para acabar com o horário de trabalho de sol a sol, nas vindimas ainda havia a agravante que os homens trabalhavam nos lagares a pisar as uvas e fazer o vinho do nascer do sol até a meia-noite.
Muitas lutas foram travadas para acabar com esta exploração aos trabalhadores rurais, eram reprimidos e espancados nos próprios locais onde reivindicavam o que tinham direito.
Só em 1937 e 38 é que os trabalhadores conquistaram o horário de trabalho nos lagares na pisa das uvas e fazer o vinho do nascer do sol até as 21,30 horas da noite, só nesta data foi abolido a exploração trabalhar até a meia-noite.
Foi uma das grandes conquistas, porque não havia condições de luta para acabar totalmente, mas só mais tarde é que se conseguiu abolir essa horrível exploração.
Para se conquistar alguma regalia é necessário que os trabalhadores tenham a noção da unidade para que a luta seja vitoriosa, ao lembrar as dificuldades que havia para organizar os trabalhadores para as reivindicações, a organização era muito débil, não havia estruturas, não havia Partido de classe, não havia esclarecimento das necessidades para a acção dos trabalhadores. Quando se reivindicava as forças repressivas caíam em cima de nós trabalhadores. 

(Continua)

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