terça-feira, 26 de julho de 2011

Noruega: a face medonha da extrema-direita




 
A extrema-direita, ideologicamente baseada no anti-comunismo e no ódio aos muçulmanos (para a extrema-direita europeia do século XXI os muçulmanos tomaram o lugar que os judeus assumiram na Alemanha dos anos 30), mostrou a sua face medonha, com os bárbaros assassinatos cometidos na Noruega. Hoje, ao passar os olhos pela imprensa online, não pude deixar de me arrepiar com comentários de apoio (sim, de apoio) aos actos de barbárie cometidos. Esses comentários de apoio vão desde os mais animalescos (que pura e simplesmente acham muito bem!), a outros que acham mal que os assassinados tenham sido jovens trabalhistas, mas já não se importariam se fossem comunistas ou muçulmanos, a outros ainda que dizem discordar dos métodos utilizados, mas afirmam concordar com os fundamentos ideológicos do indivíduo. Todos esses comentários me arrepiam, já que são faces de uma mesma realidade: o anti-comunismo, o racismo e a xenofobia que vão fazendo caminho por essa Europa, fortemente alimentados pelo poder económico, político e mediático, e que vão crescendo com a crise social provocada pela fase actual do capitalismo. É sintomático que o sentido geral das primeiras notícias e declarações sobre a tragédia de Oslo tenham sido apontadas ao terrorismo islâmico. As primeiras declarações de Obama são reveladoras disso mesmo. É sintomático também que a polícia e os serviços secretos noruegueses não considerassem o perigo de terrorismo da extrema-direita (arrisco afirmar que essa consideração seja comum à generalidade dos serviços secretos europeus). Mas nada disto pode ser considerado verdadeiramente surpreendente. O atentado e o massacre de Oslo choca seguramente muita gente, mas não é para mim menos chocante a complacência com que se olha para o caldo de cultura em que este fenómeno se alimenta. Se olharmos à nossa volta, vemos a confusão deliberadamente instalada pelos poderes económico, político e mediático entre o terrorismo islâmico e o mundo muçulmano, em que o terrorismo islâmico (que é real e tem de ser combatido) é deliberadamente confundido com civilizações, povos e culturas dos povos muçulmanos cuja relação com o terrorismo é o de serem vítimas. O ódio cego e ignorante contra os povos muçulmanos é usado pelos senhores da guerra do mundo ocidental (Bush, Obama, Blair, Cameron ou Sarkozi) para ganhar apoio na opinião pública dos seus países para as suas guerras de pilhagem e dominação, no Iraque, no Afeganistão, na Líbia, ou para o seu apoio ao Estado ao terrorismo de Estado de Israel. Se olharmos à nossa volta, vemos o poder económico, político e mediático a confundir sistematicamente crise, desemprego e criminalidade, com imigração, erigindo os imigrantes em “bode expiatório” conveniente para isentar os poderosos das suas responsabilidades na crise social que se vive. Se olharmos à nossa volta, vemos a complacência com que são tratados os partidos da extrema-direita que vão crescendo pela Europa. Na França com a família Le Pen; em Itália, com os partidos neo-fascistas a fazerem parte do Governo de Berlusconi; mas também no centro, no norte e no leste da Europa. O que se passou na Noruega deve fazer soar campainhas de alarme, e não nos deve fazer esquecer que este acto, sendo um acto isolado, não está isolado. O anticomunismo, a xenofobia e o racismo, andam por aí, e vão corroendo as sociedades democráticas, se não forem firmemente combatidos. Na Europa dos anos 30, num quadro de profunda crise social, a ascensão da extrema-direita conduziu à maior tragédia que a Humanidade já conheceu. E uma responsabilidade de todos fazer com que as lições da História não sejam esquecidas.

 
António Filipe

Sem comentários:

Enviar um comentário