sábado, 9 de julho de 2011

Inevitável, só a luta!



Na véspera e no dia das eleições, dando seguimento a uma linha de identificação e de apoio com o rumo de declínio nacional imposto ao país nas últimas décadas e de incentivo aos partidos da política de direita para que assumissem em conjunto a submissão às imposições da troika, o Presidente da República exerceu uma inaceitável chantagem sobre os eleitores ao afirmar que quem não votasse – sendo que o Sr. Presidente não se coibiu de expressar que esse voto estava como que limitado aos partidos da troika -, não poderia, após as eleições, ter opinião ou até protestar face ao mais que certo agravamento da situação económica e social do país.

Duma penada os que votassem na troika nacional (PS, PSD e CDS), estariam a sufragar as medidas que esses mesmos partidos esconderam dos portugueses e os outros, os que não votassem, ficariam impedidos de manifestar a sua insatisfação, indignação e protesto face às consequências directas dessas mesmas medidas.
A preocupação das classes dominantes com a indignação e o protesto vem de trás. Em plena campanha eleitoral, já Marcelo Rebelo de Sousa ia dando o mote e outros entretanto seguiram-lhe as pisadas na tese de que o PCP se tinha auto-excluído da área da governação (ou arco do poder). Mas ao PCP, segundo ele, cabia um importante papel após as eleições: canalizar, enquadrar e conter o descontentamento, o protesto e a luta impedindo dessa forma que ela se radicalizasse de forma desordenada e incontrolada.
Duma penada instituía-se a tese de que o PCP não ambicionava o poder, de que a sua acção e intervenção se resumia à agitação e ao protesto, omitindo a sua natureza e projecto e escondendo as suas propostas e políticas alternativas e ao mesmo tempo condicionava-se a sua autonomia e acção próprias. 
Passadas as eleições Portugal tem um novo governo composto por pessoas jovens, descomprometidas, com capacidades técnicas assinaláveis, à margem dos aparelhos partidários e da chamada classe política tradicional.
Procuram desta forma os comentadores e analistas de serviço esconder que estes foram os escolhidos apenas porque estão em condições de levar por diante, rapidamente e em força as políticas de submissão e agressão impostas pela UE e pelo FMI.
Para que tal aconteça sem grandes engulhos, hoje é assumida às claras uma linha de ataque à Constituição, vista como um estorvo para os seus calendários e objectivos.
Conscientes das consequências que terão para o país e para a imensa maioria dos portugueses as medidas que querem impor a toda a velocidade, dirigentes partidários, analistas, comentadores e politólogos de serviço e ao serviço dos interesses do poder económico, desdobram-se em análises e apelos ao bom senso, ao sentido de responsabilidade dos portugueses, à necessidade de uma união nacional para salvar o país do desastre.
Apostam forte na resignação e na passividade dos portugueses face ao que aí vem.
Não escondem os propósitos que têm, nem que para tal tenham de criar as condições para se limitar liberdades e direitos constitucionalmente consagrados, para se criminalizar a luta e impor o medo. E vão fazendo caminho para a criação do caldo de cultura que venha a permitir a consideração daqueles que lutam pelos seus direitos como subversivos e anti-patrióticos.
Mais recentemente o insuspeito Rui Machete juntou-se ao coro e apelou à razoabilidade do PCP na organização da resistência e da luta.
Procura, também ele, contribuir para o condicionamento da luta dos trabalhadores, das populações e da acção e intervenção do PCP.
Pergunta-se: Porquê tanto medo e tanto apelo, num momento e numa conjuntura de governo estável, assente numa ampla maioria parlamentar a que se junta o PS, também ele comprometido e submetido aos objectivos da troika, aos quais se junta o presidente Cavaco Silva?
Porquê tanta preocupação com o PCP e o seu papel?
 Na verdade, é porque sabem bem que a luta terá um papel determinante e constituirá o mais forte e intransponível obstáculo aos seus objectivos e calendários.
Sabem que é no PCP e com o PCP que os trabalhadores e as populações contam para resistir á ofensiva em curso e para mobilizar consciências para a construção duma alternativa política assente na indispensável ruptura com as políticas de direita e de criminosa submissão aos interesses estrangeiros.
O que não seria razoável, nem expectável, nem admissível era que o PCP abdicasse da sua natureza, princípios e projecto para alinhar no coro da submissão aos interesses do grande capital e das potências estrangeiras.

(Octávio Augusto - publicado no Avante!)

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