quarta-feira, 13 de abril de 2011

O Partido e o Povo de Alpiarça estabeleceram uma união de facto que dura há décadas.



Foi inaugurada no passado sábado a exposição sobre a luta dos comunistas e do povo de Alpiarça, por ocasião do 90º Aniversário do PCP.
Como afirmou Paula Matias, da Comissão Concelhia do PCP, trata-se de uma exposição inacabada e que pode e deve ser enriquecida. Trata-se de um importante passo para que a rica história do PCP em Alpiarça venha ser ser escrita pelos comunistas de Alpiarça.
Correspondendo a inúmeras solicitações, informa-se que a referida exposição poderá ser visitada +por todos os que o desejarem, em horário que será divulgado brevemente.
No acto da inauguração usaram da palavra Mário Fernando Pereira, presidente da CM de Alpiarça e Octávio Augusto da Comissão Política do Comité Central do PCP.
De seguida publica-se parte da intervenção de Octávio Augusto:
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O Partido e o Povo de Alpiarça estabeleceram uma união de facto que dura há décadas.
Essa ligação tornou-se mais consistente com a reorganização do Partido nos anos 40.
É também por isso que a primeira referência a Alpiarça na imprensa clandestina, neste caso no Avante! , é de Agosto de 1944.
De então para cá, o Partido manteve sempre uma organização estruturada e numerosa com uma forte influência política e social em Alpiarça.
Não há nenhuma Movimentação ou luta neste concelho que não tenha a direcção, o envolvimento dos militantes e da organização do PCP.
Foi assim antes do 25 de Abril.
È assim depois do 25 de Abril.
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- Quando se fala do papel determinante do Partido na resistência ao fascismo e na luta pela democracia e pela liberdade, fala-se obrigatoriamente de Alpiarça.

 “Na história da luta do povo português contra a ditadura fascista, Alpiarça é um nome que brilha pelas lutas dos operários agrícolas, pelas grandes manifestações de protesto contra a ditadura, pela vitalidade das actividades democráticas, pela influência e papel determinante do Partido da classe operária – o Partido Comunista Português.”
Quem o afirmou foi A. Cunhal em 1974

De facto, em Alpiarça tiveram lugar muitas dezenas de pequenas e grandes lutas contra o desemprego, contra a falta de géneros, contra o aumento do custo de vida, por melhores condições de trabalho, por aumento de salários.
Mas essas lutas não tinham apenas como objectivo melhorar as condições de vida dos trabalhadores e do povo.
Elas visavam igualmente a luta pela liberdade e pela democracia, contra a guerra colonial, contra o fascismo.
Visavam também a luta pelo acesso à cultura, pelo associativismo. As colectividades de Alpiarça foram também um poderoso meio de combate contra o fascismo, a censura, o obscurantismo, pela liberdade e pela democracia.
A rica actividade de “Os Águias” e da Música aí estão para o comprovar.
E são tantas, tantas essas lutas que se tornaria impraticável falar aqui e agora de todas elas.
Queria contudo sublinhar um detalhe dessas lutas. A participação das mulheres e a comemoração do dia Internacional da Mulher, comemoração essa que teve lugar em diversos momentos e de diversas formas durante o período da ditadura fascista.
Quero fazê-lo porque há bem pouco tempo um eleito do PS na Assembleia Municipal se referiu à Comissão de Mulheres de Alpiarça em tom depreciativo e ao mesmo tempo revelador de uma preocupante ignorância sobre a história recente da sua terra.
Mas a importância da luta dos comunistas e do povo de Alpiarça não se resumiu ao seu impacto no interior deste concelho.

“O nome de Alpiarça tornou-se conhecido como o de uma das fortalezas da luta popular, erguidas, invencíveis e confiantes, no Portugal abafado, oprimido e espezinhado pela odiada ditadura fascista.”
Quem o disse foi mais uma vez A. Cunhal.

Os exemplos da resistência e das lutas dos alpiarcenses foram um detonador de outras lutas, um factor de incentivo e de estímulo para toda a região e para o país.
Para que isso acontecesse, a imprensa clandestina teve um papel fundamental e único.
Basta dizer que nas páginas do Avante surgem 52 notícias e inúmeras referências pontuais ao povo de Alpiarça e á sua luta.
São também centenas as referências na Rádio Portugal Livre.
Porque Alpiarça não sendo caso único, era sem dúvida um caso especial, a PIDE instalou-se aqui de armas e bagagens e chegou a ter, coisa invulgar numa terra desta dimensão, um Posto permanente no concelho.
Antes de Alpiarça ser privilegiada com um Posto da PIDE, era a partir do Entroncamento que se dava a vigilância neste concelho.
Vejam o que dizia um agente da PIDE do Entroncamento em Março de 1957:

“Dos concelhos que se encontram na área deste Posto e vigilância, o de Alpiarça é, sem dúvida, aquele que mais se encontra inteiramente dominado por elementos com ideias avançadas, ou pelo menos contrários à situação.
Aproximando-se as “eleições” parece-me, salvo melhor opinião de V. Ex.ª, que o concelho de Alpiarça, por esse motivo, merece especial atenção.”
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Voltemos a Alpiarça.
Uma referência para as comemorações do 1º de Maio e para as diversas formas criativas e engenhosas com que era comemorado o Dia do Trabalhador. Isto porque naquele tempo até para deitar foguetes era preciso engenho e arte.
Outra referência para a forma não menos criativa de aproveitar as nesgas abertas pelo regime nos chamados “períodos eleitorais”, em que se destaca as “Eleições presidenciais” de 1958.
Mas em todas essas campanhas Alpiarça deu extraordinário contributo. Daqui saíram muitos candidatos para as listas da Oposição, muitos participantes em iniciativas da Oposição no distrito e em Lisboa.
Aqui se realizaram imensas reuniões e grandes iniciativas de massas: Comícios e sessões da Oposição Democrática.
Também para o Congresso da Oposição Democrática de 1973, em Aveiro, Alpiarça deu um enorme contributo com uma numerosa participação no Congresso, com muitas reuniões de preparação e com a intervenção do nosso camarada Manuel Colhe no Congresso.
Alpiarça foi e é, uma terra marcada por gente de profundas convicções.
Quando se fala da luta pela dignidade do ser humano, na satisfação dos seus mais elementares direitos, pelo direito ao trabalho, pelo trabalho com direitos, fala-se do PCP, fala-se de Alpiarça.
Quando se fala da luta dos operários agrícolas, fala-se do PCP, fala-se do magnífico exemplo dos operários agrícolas de Alpiarça.
Quando se fala da repressão, da tortura, da prisão, da emigração forçada, do exílio, das duras condições da luta na clandestinidade, fala-se do PCP, fala-se de centenas de homens e mulheres desta terra, verdadeiros heróis no combate pela liberdade, pela democracia, pelo socialismo.
Foram centenas os homens e mulheres de Alpiarça que Foram perseguidos, presos, torturados, prejudicados na sua vida familiar e profissional.
Foram muitos os que tiveram de abandonar a sua terra, fugir para outros pontos do país ou para o estrangeiro.
Outros serviram o nosso Povo e o seu, nosso, Partido nas duras condições da clandestinidade, como foi o caso, entre outros de: 

Carlos Pinhão
“Xico Galiza “
Manuel Colhe
Maria Albertina

Manuel Vital, 
Manuela Pratas Vital,
Maria Luísa Correia, 
Maria Manuela Almeida, 
Noémia Almeida Presuncia, 

João Pinto
Outros ainda perderam as suas vidas, como foi o caso, entre outros, da Maria Albertina, do 
Alfredo Lima
José Centeio

Muitos outros puseram em risco a sua liberdade permitindo que as suas casas fossem utilizadas para reuniões, esconderijos, pontos de apoio á actividade clandestina.
 É de todos estes pequenos e grandes contributos que se faz a história do nosso Partido, um Partido que estruturou a sua organização clandestina, que se foi aperfeiçoando com o tempo, assente em:
- Militantes do Partido, organizados em células;
- Simpatizantes do Partido que, entre outras ligações, eram receptores e difusores da imprensa e propaganda clandestina;
- Funcionários do Partido, que para a concretização das perigosas e exigentes tarefas, utilizavam casas clandestinas e os mais diversos e engenhosos disfarces; 
 "Licença de condução" de Xico Galiza
Carta de condução de António Castelo utilizada por Domingos Abrantes 
- As casas clandestinas eram base para a residência de um casal e por vezes outros funcionários do Partido e para reuniões de organismos compostos por funcionários clandestinos.
- Os funcionários do Partido utilizavam outras casas, os chamados pontos de apoio, para pernoitarem e para realizarem reuniões com outros militantes do Partido. Aqui em Alpiarça foram dezenas as casas utilizadas para estas funções.
Existiam ainda outras casas clandestinas que serviam de base para a instalação e funcionamento de tipografias (Ourém), de aparelhos de falsificação de documentos e de apoio á passagem das fronteiras;
Mais tarde existia ainda o aparelho logístico e operacional ligado à acção directa através da ARA. Acção Revolucionária Armada…
Completava esta rede, um circuito próprio de distribuição do Avante e de outros materiais clandestinos, constituído por casas clandestinas, casas de apoio, transportes e estafetas.
Este circuito era assegurado por funcionários do partido e apoiado em centenas de militantes e simpatizantes espalhados por todo o país e estrangeiro.
Sendo impossível referir com detalhe todos os homens e mulheres de Alpiarça que, nas mais diversas tarefas deram o melhor de si para a construção deste nosso Partido, é justo que aqui se deixe uma palavra de reconhecimento a todos eles.
Foi com homens e mulheres cheios de coragem e de profundas convicções que fizemos e fazemos o Partido que somos hoje e que queremos continuar a ser.
Foi assim durante os 48 anos de regime fascista, e assim foi no processo de construção do regime democrático saído da revolução de Abril, na construção daquela que foi uma das mais belas conquistas de Abril, que foi a Reforma Agrária, foi assim na democratização do Poder Local, na dinamização da vida associativa, na organização das populações e dos trabalhadores.
Foi também na mobilização para a resistência ao processo contra-revolucionário iniciado a partir do 25 de Novembro e até aos dias de hoje.
É por isso que faz todo o sentido quando se fala dos comunistas e do seu Partido, se fale de Alpiarça e, quando se falade Alpiarça, da sua gente, da sua luta de ontem e de hoje, se fale obrigatoriamente do PCP.
É que uma e outra coisa são inseparáveis!
É também por isso, que em Alpiarça o PCP é tão simplesmente o Partido:
Completam-se dentro de dias 5 anos sobre um episódio que se passou comigo: Há alguns anos que não vinha a Alpiarça e, chegado ao largo dos Águias, resolvi perguntar a uma jovem qual era a rua onde ficava a sede do PCP…
- PCP? Não estou a ver… Aquela rua ali é a rua do Partido, agora PCP não sei onde é…
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Os nossos inimigos, antes e depois do 25 de Abril, inúmeras vezes decretaram a nossa morte.
Afirmavam-no sempre que prendiam importantes quadros do Partido ou desmantelavam alguma organização. Contudo a organização do Partido renascia e voltava a fortalecer-se!
Afirmavam-no quando conseguiam apanhar uma tipografia clandestina. Ficavam convencidos que finalmente o Avante iria interromper a sua publicação regular. Nada mais falso. Nas semanas seguintes, sempre e sempre até ao 25 de Abril, o Avante voltava a chegar às mãos dos trabalhadores e dos democratas!
Passaram a nossa certidão de óbito vezes sem conta, antes e depois do 25 de Abril.
O comunismo morreu. Afirmavam eles, confundindo a realidade com a sua vontade!
Falavam do declínio irreversível do PCP. Falharam mais uma vez!
E porquê que o PCP resistiu e se fortaleceu, transformando-se num grande partido nacional, durante os de 48 anos de ditadura?
E, porquê que, liquidadas quase todas as conquistas de Abril, o PCP se mantém vivo, rejuvenescido e pujante e é hoje, com sempre foi, um instrumento indispensável para a defesa dos direitos, interesses e aspirações dos trabalhadores e das populações?
Porque a força do PCP reside na sua profunda ligação à classe operária e a todas as classes e camadas que lutam contra a exploração e por uma vida melhor e mais digna.
Porque onde há um problema, onde há uma luta, sempre e sempre ao longo destes 90 anos, está lá o PCP, os seus militantes, os seus quadros dirigentes, os seus deputados.
Porque o PCP é, como sempre foi, uma força política constituída por homens e mulheres com profundas convicções alicerçadas no mais belo ideal da humanidade, onde a erradicação da exploração do homem pelo homem seja uma realidade.
Porque os homens e mulheres que fazem do PCP este grande Partido, não desistem de lutar em quaisquer circunstâncias por uma sociedade liberta da exploração, a sociedade socialista.
Porque os homens e mulheres do PCP, ontem como hoje não baixam os braços perante as adversidades.
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1 comentário:

  1. O PCP é sem dúvida importantíssimo para a História Contemporânea de Alpiarça, é um marco inigualável da sua identidade local, é o partido como foi chamado durante muitos anos e continua a sê-lo na actualidade.
    A luta, assumida por muitos alpiarcenses, trouxe-nos um património riquíssimo, muito para além de os ideais políticos, faz parte da identidade de Alpiarça, da nossa História Local.
    Toda a História do PCP, da luta contra o fascismo deve ser sempre lembrada, pois faz parte da nossa identidade local. Ao longo de quase um século muitos homens e mulheres de Alpiarça abraçaram os seus ideais políticos, contribuíram para abrir as portas da liberdade e, inúmeras vezes, mesmo quando a força já lhes faltava, não baixaram os braços e lutaram, levantando o seu punho bem cerrado, pela vitória da sua causa.

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