sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Precariedade sustenta «milagre» alemão

«Saúde» da economia e do emprego em causa
Precariedade sustenta «milagre» alemão
A Alemanha é apontada como um exemplo excepcional de crescimento económico e combate ao desemprego no actual contexto de crise mundial. Na verdade, a sustentar o «milagre» alemão está a velha receita capitalista de aumento da exploração sobre quem trabalha.
Os dados que têm feito parangonas nas notícias indicam que, em 2011, foram criados na Alemanha 535 mil empregos face a 2010, fazendo cair a taxa oficial para os 6,8 por cento, segundo a Agência Federal de Emprego, o mais baixo índice desde a chamada reunificação.
Em contexto de crise capitalista mundial, com particulares consequências ao nível do desemprego no espaço comum europeu, a estatística tem sido apresentada como parte de um «milagre», ou, mais precisamente, uma fórmula que, de forma explicita ou velada, se sugere dever ser aplicada noutros países que buscam solução para a situação em que se encontram.
Reputados especialistas (há sempre especialistas reputados que comentam estas matérias), como um investigador do Instituto para a Economia Mundial ou um semelhante de uma empresa de análise de mercado, garantem que, apesar da crise, a Alemanha continua a afirmar-se como o motor económico da Europa devido à sua competitividade em matéria salarial e capacidade de diversificação das exportações, nomeadamente para a China (BBC Mundo, 3 de Janeiro).
Na verdade, esta alegada capacidade de superação/gestão, por parte do sistema, das suas próprias contradições, é contestada. O contraditório não é divulgado com a mesma pujança, mas dá a perceber que da fartura dos que exploram já não caem, como em tempos, migalhas para os explorados.
De acordo com a economista Julia Martínez, a estatística do emprego mascara uma realidade do tempo que vivemos. Num artigo publicado no Rebelion, a professora da Universidade Centro-Americana denuncia que o que sustenta o chamado «milagre» é a «institucionalização e generalização da precariedade», apresentada sob o eufemismo de flexibilização do mercado de emprego.
O ingrediente principal da receita, em 2011, foi o denominado micro-emprego, isto é, a proliferação de contratos temporários de um máximo de 80 horas por mês e salários até 400 euros, denuncia.


Aumento da exploração


O ano passado, estiveram nesta situação 7,3 milhões de trabalhadores alemães, ou seja, 25 por cento da população activa, os quais obtiveram, em média, 230 euros de rendimento mensal.
Pelo preço de 120 euros por cabeça a título de contribuição para a Segurança Social ou fundos de pensões, explica ainda Martínez no referido texto, o patronato garante um brutal decréscimo do preço da força de trabalho e generosas isenções nos impostos, previstas neste regime de contratação.
Para o trabalhador fica a contribuição voluntária da sua parte para a Segurança Social ou fundos de pensões, e uma sobrevivência miserável, a qual, na Alemanha, é cada vez mais assegurada pelas ajudas familiares e pelas contribuições públicas.
Para o Estado (o conjunto dos contribuintes, na sua maioria trabalhadores por conta de outrem), sobram milhares de trabalhadores pobres carentes de auxílio, apesar de se encontrarem empregados. Só em Berlim, um quinto da população depende do auxílio estatal para subsistir.
Na prática, são os fundos públicos (através das prestações sociais e dos benefícios fiscais às empresas) e o violento aumento da exploração da mão-de-obra quem sustenta o «milagre» alemão, conclui-se.
Neste contexto, acrescenta-se no artigo citado, não é de estranhar que indicadores oficiais e de instituições de nomeada, igualmente referentes ao ano passado, afirmem que os rendimentos dos mais ricos cresceram na Alemanha oito vezes mais do que os rendimentos dos mais pobres (OCDE); que persista a desigualdade e a pobreza (Associação de Assistência Pública), e os mais atingidos pela precariedade – mulheres e jovens – não encontrem no mini-trabalho a desejada integração plena em empregos com jornada completa e salário digno, mas precisamente o inverso (Ministério dos Assuntos de Família, Terceira Idade, Mulheres e Juventude).

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