sábado, 18 de junho de 2011

Politólogos

  • Jorge Cordeiro


À corte de analistas e comentadores que se apressaram a desvalorizar o resultado eleitoral da CDU juntam-se, agora, os politólogos de serviço.
Páginas da mesma cartilha que os molda, sempre se dirá que destes - os que ostentando designação mais cientifica, grau de mestrado e uma pitada académica indispensável à credibilização do que escrevem – se esperaria mais em rigor e seriedade de análise do que daqueles outros que escrevendo a metro e a mando ainda não pegaram na caneta e já se sabe para que lado corre a tinta.
Expectativa gorada. O texto de André Freire no Público sobre as eleições  dão conta daquele mesmo vício de raciocínio em que a opinião dominante e dominada insiste. É pena, porque para politólogo mais se exigia. São do autor, entre outras, três teses: a primeira, de que é «patético, senão trágico» ouvir o PCP falar de vitória perante a «derrota estrondosa de toda a esquerda»; a segunda, a que atribui à «divisão da esquerda» as alianças do PS  com a direita; a terceira, a que classifica como «declínio do PCP desde os anos 70/80». Olhando para realidade dir-se-ia que o autor ou não sabe ler ou manipula factos para conduzir a conclusões que lhe aliviem a consciência. Afastada que está, seguramente, a primeira das razões (por mais surpresas que as múltiplas faces da iliteracia teimem em revelar), resta  encontrar naquela última a explicação para a coisa.
Ainda que em termos menos eruditos aqui se deixam três observações: a primeira, para anotar que classificar o PS como dessa «esquerda derrotada», tomando a parte pelo todo enquanto condição necessária à conclusão que se pretende alcançar, não é exercício de ciência política, mas sim um mero truque ao alcance mesmo dos que não falem do alto da sua cátedra;  depois, para evidenciar o que qualquer leigo em ciência política já descobriu há muito – que o PS não precisou de ser empurrado para, desde sempre, cumprir o papel de serviço à direita que o capital lhe atribuiu; por último, para mostrar ao autor o que este não quer ver, ou seja que a CDU tem registado desde 2002 uma continuada progressão nas quatro eleições legislativas realizadas.

(publicado no Avante!)

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