segunda-feira, 26 de abril de 2010

Intervenção de Inês Aguiar na Sessão Solene da AM, em representação da CDU



Ao representar a minha bancada para discursar nesta noite em que se comemoram os 36 anos passados da revolução do 25 de Abril de 74, não posso deixar de demonstrar por um lado o meu orgulho por outro a minha surpresa. Surpresa porque sou uma filha de Abril. Nasci em 1976, com a democracia e a liberdade instalados. Sempre vivi e cresci num Portugal diferente. Por isso mesmo posso estar aqui hoje, sendo eu uma mulher, a discursar.
Porque foi esta revolução, que hoje estamos aqui a comemorar, que permitiu que as pessoas vivessem num país livre, mais fraterno, em que as pessoas sejam todas iguais, tenham os mesmo direitos, o direito à saúde e ao ensino, gratuitos e de qualidade, o direito ao trabalho, os direitos sociais, o direito a votar, o direito a exigir melhores condições de vida e de trabalho.
Porque foi com esta revolução que se conquistaram coisas tão simples e que nos parecem um dado adquirido, como a liberdade de expressão, as eleições livres, o direito à greve e à indignação, o direito de voto.
No entanto, sobretudo para as gerações mais novas, onde me incluo, que não viveram antes do 25 de Abril, é nosso papel preservar o que foi feito pelos nossos pais e avós, que tanto lutaram para permitir que hoje vivamos em liberdade.
E por isso mesmo, devemos sentir uma enorme admiração pelas pessoas que travaram tão duras lutas para acabar com a ditadura em Portugal. E que nunca desistiram. E que sempre acreditaram que era possível. E foi!
No entanto, não podemos deixar de sentir o peso da responsabilidade. Porque, cabe-nos, a nós, aos nossos filhos, defender a democracia e a liberdade que nos legaram.
Não nos podemos resignar e aceitar os atropelos constantes aos ideais de Abril. Não podemos permitir o retrocesso em tão difíceis conquistas.
Voltámos a ter um Portugal níveis de desemprego assustadores, com o consequente crescimento da pobreza, da miséria, em que voltámos a ter as políticas dos baixos salários, a precariedade, a falta de apoios sociais, e o retorno da necessidade de recurso à emigração, tal como se verificava nos piores anos do salazarismo.
Não podemos ainda esquecer sectores tão fulcrais, como a saúde e a educação, cujas políticas levadas a cabo nos últimos anos, pelos sucessivos governos do PS, PSD e ainda com a ajuda do CDS-PP, têm tentado destruir, em benefício de grandes grupos económicos, que se começam a impor sobretudo na área da saúde, servindo interesses pessoais dos próprios governantes, e não os da população.

Uma política de direita, em que os grandes interesses económicos e capitalistas se sobrepõem aos interesses colectivos, das populações. Fazendo-nos crer que as privatizações das empresas são solução para salvar as contas públicas. Empresas essas, que são das que maiores lucros têm tido, a par da Banca, com gestores a receber ordenados escandalosos, verdadeiras fortunas. Ao mesmo tempo que as condições de vida da população em geral se vão degradando.
Em que os dinheiros públicos são desbaratados com gestões danosas, assistindo-se diariamente a uma total impunidade e desresponsabilização dos nossos governantes, tanto a nível local como nacional. E que na maioria dos casos acabam por ser recompensados com nomeações políticas para altos cargos. Paralelamente, exigem-nos sacrifícios, em nome de uma suposta estabilidade e crescimento, baixando os salários, aumentando os impostos, reduzindo os apoios sociais, enfim… A concentração da riqueza em detrimento da sua redistribuição. Uns a esbanjar, os do costume a pagar e a fazer sacrifícios.
Chegou a hora de todos dizermos BASTA!
Não podemos permitir que se continue neste caminho. Há que, urgentemente, e através de uma verdadeira política de esquerda, implementar os valores e ideais de Abril.
E, porque o sonho comanda a vida, continuaremos a lutar, junto das populações, todos os dias, por uma sociedade sem desigualdades, mais fraterna, mais solidária, mais democrática.

VIVA O 25 DE ABRIL!

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