Há
quem não ande, rasteje, mesmo que se julgue de pé. Há quem dizendo o
que lhe mandam, não raras vezes mais que a mero mando à sombra da paga
que lhes agiliza a prosa, julga convencer quem os ouve que ali reside
réstia de pensamento ou vontade próprias. Há quem não conhecendo
horizonte para lá do chão que pisa, julgue impossível, e para além do
que a compreensão permite aos que vivem curvados e com os olhos postos
em baixo, que milhões de outros saibam o que só a dignidade de viver de
cabeça levantada lhes pode ensinar. Há ainda aqueles que se sabendo à
venda julgam que tudo, desde os valores à consciência ou da dignidade à
convicção, se pode comprar.
Será
por estas e por outras não menos indignas razões, que se explicarão
muitas das análises e definitivas sentenças de alguns dos habituais
comentadores de serviço sobre a greve geral. Será por estas e outras
razões que o capital, e os círculos de poder que o servem, têm
assegurado que será ouvido pela boca daqueles o que não querem que se
ouça pela voz directa destes. Entre a indigência política disfarçada por
umas tiradas de «economês» ao primarismo mais caceteiro, de tudo um
pouco se viu nessa cruzada sem glória e sem sucesso para iludir aquela
que foi para lá de uma memorável jornada de luta, uma inequívoca
afirmação de dignidade dos trabalhadores portugueses. Um tal de Camilo,
não o comediante seguramente mais conhecido e respeitável, mas um outro
que por aí comenta, sem dúvida não menos hilariante, afirmou sobre a
jornada de 24 que não passava de uma «greve estúpida».
Pelo que já se lhe ouviu antes e pelo que mais se lhe ouvirá ainda,
entre aquelas orelhas coabita aquele pensamento de resignação que
Salazar, seu inspirador e modelo, traduziu naquela expressão «está tudo
bem e não podia ser doutra forma». Pelo que talvez, para o caso em
concreto, nem se justifique tentar fazer perceber do que se trata quando
se fala desta e doutras lutas: da dignidade, estúpidos!
Jorge cordeiro no AVANTE!
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